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5 dicas para escolher um médico

Como você escolhe o seu médico? Infelizmente, no Brasil este é um privilégio de poucos.

Sabemos que a grande maioria dos brasileiros não tem tal oportunidade e é atendida pelos médicos dos serviços vinculados ao Sistema Único de Saúde – e, vale ressaltar, na maior parte das vezes terão a felicidade de ser cuidados por médicos qualificados, humanos e comprometidos com a saúde pública. Mas, e aquele usuário da saúde suplementar ou que busca atendimento particular? Como escolhe?

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que as pessoas gastam mais tempo à procura de um carro novo do que pesquisando sobre um bom médico. De acordo com o relatório, a maioria dos adultos investe de 10 horas a algumas semanas para escolher o veículo ideal para comprar, enquanto gasta menos de uma hora investigando sobre um profissional ou hospital quando precisa.

Outro dado interessante vem do relatório de um sistema internacional de busca por serviços médicos: o tempo de tolerância do paciente para aguardar por um serviço de saúde que atenda sua ligação para agendamento é de quatro minutos. Após essa espera, se não atendidas, mais de 70% das pessoas passam para o profissional seguinte da lista.

Nas minhas últimas férias com a família, antes da pandemia, fiz pesquisas nos sites de busca de hotéis e restaurantes analisando vários itens, mas principalmente a opinião dos usuários. As pessoas tendem a ser críticas e este é um bom termômetro para não se dar mal na escolha. Normalmente, falam da localização, limpeza e higiene, atendimento, qualidade das refeições, preços etc.

Infelizmente, para serviços médicos e de saúde não temos uma cultura assim, nem sequer um serviço que ofereça uma busca nestes moldes. Existe muita discussão ética sobre isso. Às vezes o tratamento não deu certo pelo fato de a doença ser grave, e não por falha do médico; às vezes o médico é qualificado para uma determinada situação, mas não tanto para outra. São muitas as variáveis e, por isso, a avaliação é delicada e gera controvérsias. Na minha opinião pessoal, acharia muito útil.

No entanto, enquanto não temos ferramentas de busca tão elaboradas assim e tampouco um estudo sobre o tema no Brasil, vale a pena nos questionarmos se estamos empenhando tempo e energia suficientes na escolha de um profissional ou hospital que vá cuidar da nossa saúde.

Como escolher o melhor profissional para nosso caso? É claro que, em situações de emergência, nem sempre podemos fazer isso. Mas em caso de uma consulta ou procedimento cirúrgico eletivo, vale a pena pesquisar bem. Um hospital ou plano de saúde contam com diversos médicos. Mas qual será o melhor para o seu caso? Esta é uma boa pergunta para começar a fazer, e vou dar a seguir algumas dicas que sigo sempre que estou no papel de paciente ou quando preciso indicar um colega para um familiar, amigo ou paciente.

1. Entenda qual é a especialidade adequada para seu caso

Um bom começo é priorizar qual é o seu principal problema e procurar o especialista da área. Isso evita, muitas vezes, demora no diagnóstico e no tratamento, além de não correr o risco do famoso encaminhamento “au-au” – ao ortopedista, ao cirurgião, ao cardiologista e assim por diante. Por exemplo, se você está com dor nos joelhos, dê preferência a um ortopedista que atue mais especificamente nesta área.

Muitas vezes é difícil para uma pessoa que não é da área da saúde saber exatamente qual a origem do problema e que especialidade procurar. Nessas situações, o melhor é procurar um clínico geral ou médico de família, chamados médicos de atenção básica de saúde. Estes profissionais costumam ter uma visão mais generalista da situação, conseguindo com muita eficácia resolver a grande maioria das questões clínicas, além de ajudar na indicação de especialidades pontuais quando necessário.

Outra grande vantagem do médico da atenção básica é que ele tem uma tendência maior para trabalhar na prevenção. Não podemos esquecer que prevenir é a melhor forma de nos mantermos saudáveis. O antigo ditado já dizia: “Melhor prevenir do que remediar”. Países desenvolvidos como a Inglaterra adotam esse modelo com sucesso.

2. Procure indicação de familiares, amigos e outros profissionais da saúde

Uma dica valiosa é a recomendação de familiares e amigos que já passaram pela assistência de um médico ou serviço de saúde. Mesmo sendo leigos na área da saúde, foram pacientes – e isso diz muito. Viveram na pele a experiência. A boa relação médico-paciente e médico-família é uma das principais virtudes de um médico. Quem passou por isso, tanto como paciente ou como familiar, sempre terá a disposição e o prazer de relatar tal experiência, sendo positiva ou negativa.

O que precisamos fazer é tentar identificar possíveis exageros (para o lado bom ou ruim) e sempre procurar opiniões de mais pessoas. Por vezes o problema da relação é o paciente, e não o médico. Ouvindo o maior número de pessoas, e com um ouvido mais crítico, podemos ser mais certeiros na escolha.

A recomendação de outro médico ou profissional da saúde também vale muito. Nem sempre as pessoas têm este acesso, mas quando possível deve-se levar em conta. Certamente, um médico que já conhece você e o seu caso vai ter uma facilidade maior de indicar o profissional correto. Como em qualquer negócio o “boca a boca” costuma ser uma propaganda honesta.

3. Fique de olho no currículo

Lembra quando falei sobre a pesquisa mostrando que as pessoas demoram mais para escolher um carro novo do que para decidir quem vai cuidar da sua saúde? Pois é, quando pesquisamos um produto temos o hábito de investigar procedência, especificações, qualidade, rendimento etc. Procure criar este hábito também ao pesquisar um médico. Confirme se o nome consta em pelo menos duas listas de referência: a do Conselho Regional de Medicina e da Sociedade, Associação ou Colégio Brasileiro da especialidade a que ele divulga pertencer. Graças à internet, é uma pesquisa simples hoje em dia.

Outra opção é a busca pelo profissional na Plataforma Lattes (cnpq.br), uma base de dados de currículos na área de ciência e tecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nem todos os profissionais têm seu cadastro nesta plataforma, mas aqueles que estão envolvidos com atividades acadêmicas e pesquisas geralmente possuem seu currículo cadastrado ali.

Uma ótima fonte para verificar todo o histórico da formação profissional do médico, como também as publicações de livros, artigos e trabalhos científicos. A medicina é uma ciência em constante evolução, portanto o médico deve procurar estar sempre atualizado. Lembre-se disso.

4. Deve transmitir confiança

A confiança no médico e no tratamento faz diferença no enfrentamento da doença e na resiliência ao tratamento.

Além de atenção, o médico deve oferecer segurança ao paciente, demonstrar domínio sobre o que está falando, dedicação e interesse no seu caso. E acima de tudo deve ser franco e honesto, sempre alertando claramente dos riscos da doença ou do tratamento, como também tranquilizando quanto ao suporte e amparo que irá prestar.

O paciente melhor informado sempre será um paciente mais engajado e mais confiante. Afinal, a confiança é a base para que qualquer relação seja duradoura, inclusive a do paciente com o médico.

5. Deve ser uma boa pessoa antes de ser um bom médico

Entender a dor, a vontade e as escolhas do paciente, sem preconceitos, é fundamental para um ótimo relacionamento médico-paciente. O médico deve ser empático e acolhedor. Não existe mais espaço para profissionais arrogantes, com o “rei na barriga”. Discutir seu caso com colegas e outros profissionais de saúde não é sinal de ignorância. Muito pelo contrário, é uma virtude. Reconhecer o valor de toda a equipe de cuidado e evitar o egocentrismo é a melhor forma de um médico entregar o melhor cuidado ao paciente.

Más pessoas nunca serão bons profissionais. Lembre-se: não tratamos a doença, e sim o paciente. Isso transforma a relação muito mais complexa e delicada. Não aceite um mau atendimento. Você que está pagando, seja pelo SUS, por convênios ou por seu próprio dinheiro, merece toda a atenção. Não se contente com pouco. Afinal, é sua saúde que está em jogo.

E lembre-se: não deve ser sorteio, e sim escolha.

Sobre o autor: Rinaldo Danesi Pinto é cirurgião oncológico e professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb).

 

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