A história da metade da laranja…
Acredito que muitos já escutaram algo referente ao amor que completa metaforicamente conhecido como “metade da laranja”. Parte desse pensamento tem influência do Romantismo que encontramos nas comédias românticas, nos contos de fadas, nos livros de romance, músicas ou nas novelas.
Penso no cuidado que se deve ter com essa história da metade eu e metade o outro. É linda, romântica e poética a historia da laranja, mas e se a outra metade estiver amarga, azeda ou o que é pior estragada? É bem irônico esse comentário, eu admito, mas parte de uma realidade, pois essa ideia do outro que completa pode ser perigosa. Por isso hoje, proponho uma reflexão sobre este tipo de amor, o amor romântico.
Procurar um parceiro (a) que completa é o mesmo que colocar um ponto final em uma historia que poderia ser recheada de emoções, aventuras e descobertas, pois se nos completa o que mais podemos fazer, construir ou desejar? Já não completou?
Essa ideia de completude tem a base no mito do amor romântico e este não é construído em uma relação com a pessoa real, mas de uma projeção que se faz desta, dando uma ilusão de amor eterno e verdadeiro.
Pensar que a felicidade e harmonia do casal só acontecem na completude, muitas vezes coloca no outro a própria responsabilidade de desenvolvimento e assim um relacionamento que poderia proporcionar o crescimento vai dando espaço para uma relação de dependência.
E o que é uma relação de dependência? É relacionar-se com base no que “precisa”, com base no seu eu limitado, que leva a dependência, ao sofrimento e a uma relação insustentável. Estar com o outro com base na necessidade sufoca, aprisiona e impede a aproximação da felicidade.
O médico psiquiatra, psicoterapeuta e escritor Roberto Freire alega em um dos seus livros que lhe custou muita dor, solidão e desespero aprender que sentir amor era uma potencialidade vital sua, produção criativa própria, e que para amar dependia apenas dele mesmo e não do outro.
Ao convivermos com o outro temos a oportunidade de desenvolver e praticar qualidades de tolerância, adaptação, escuta compreensão, perdão, comunicação e principalmente de discernir, de não deixar influenciar e não depender. Desta forma, você aprende a ser você estando com o outro, abraçando sua autenticidade e a liberdade de ser você mesmo e não aquilo que o outro deseja.
Segundo Subirana (2013, p. 78) “a nova forma de amor oferece um novo significado, posto que visa a aproximação de DOIS INTEIROS, e não a união de duas metades.”
Assim, antes de pertencer ao outro com ideia na completude, você tem que pertencer a si mesmo e pertencer a si mesmo significa que você é soberano de sua mente, coração e corpo. Não existe nenhum amor que nos torne completos. Porque a resposta não é essa. A resposta somos nós mesmos.
Referência Bibliográfica
SUBIRANA, Mirian. Cumplices :para além de relações de dependência. Rio de Janeiro. Editora Vozes, 2013.
Lingia Menezes de Araújo
Psicóloga Clínica
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