A verdade sobre o uso da cloroquina
Diante da gravidade do COVID-19 e do crescente número de opiniões infundadas sobre o tratamento da doença, venho compartilhar com você, caro leitor, minha opinião sobre o uso da cloroquina e de corticoides no controle da pandemia. Não é um palpite, mas uma certeza adquirida em décadas de exercício clínico da medicina.
É relevante registrar que o COVID-19 é uma patologia essencialmente clínica, exigindo a colaboração de infectologistas e intensivistas para combatê-la. Trata-se de uma condição muito grave, principalmente no caso de pacientes que já possuem doenças prévias.
O vírus provoca a liberação de toxinas, grandes responsáveis pelas lesões ao pulmão e ao rim. Porém, não é possível ter 100% de convicção das consequências para o organismo ainda no início da doença. Assim, quanto mais cedo o vírus for destruído, melhor.
A cloroquina, largamente utilizada no tratamento da malária e outras doenças prevalentes nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, é a melhor indicação no combate ao mecanismo viral. Com o potencial de destruir o agente invasor, mas não de regenerar o pulmão, a cloroquina deve ser aplicada logo nos primeiros sintomas da doença. Uma vez que, se o pulmão já estiver lesado, não haverá mais a possibilidade de recuperá-lo por completo.
Por não ser um medicamento muito conhecido no País, seu surgimento provoca incertezas. Foram buscar recomendações na literatura médica e se depararam com os efeitos colaterais, que são raros. Aliás, todo remédio tem consequências e é dever do profissional de medicina conhecê-las, mas isso não limita seu uso.
Há dez anos, descobriu-se que a cloroquina age também como antiviral. Tenho prescrito esse medicamento há mais de 40 anos, sem constatar paciente algum com complicações. Em vista de sua eficiência no combate à pandemia, tais efeitos colaterais são desprezíveis.
Por outro lado, é urgente ressaltar que o medicamento não pode ser utilizado como forma de prevenção, muito menos como automedicação. É responsabilidade do médico avaliar a situação do paciente e receitá-lo.
O COVID-19 tornou-se exercício de opiniões insustentáveis. Entre as sugestões levantadas, está até o corticoide. Uma ideia que provavelmente surgiu por interesses econômicos e é completamente avessa à fisiopatologia da doença. Um completo absurdo, a ser contraindicado.
Lamento o uso político da cloroquina, retardando sua aplicação prática; e do corticoide, colocando-o perigosamente em evidência. É necessário know-how para contribuir à polêmica e colocar o interesse da comunidade como objetivo primeiro.
20 de abr. de 2020
Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica