Blefarite: Dermatoses faciais e inflamação crônica nas pálpebras
A prevalência da blefarite pode variar de 37% a 50% e atinge com mais frequência mulheres acima dos 50 anos
A blefarite é uma inflamação crônica que atinge as margens das pálpebras. O termo blefarite vem do grego blepharon, pálpebras. A terminação “ite” designa a inflamação.
A doença é mais prevalente em mulheres acima dos 50 anos, mas pode afetar qualquer pessoa.
Estima-se que em 84% dos casos, a blefarite é causada por dermatoses faciais, como a dermatite e a demodicose facial, doença caracterizada por uma verdadeira infestação de ácaros Demodex.
Estes micro-organismos se alimentam do sebo produzido pelas glândulas sebáceas da pele e das pálpebras.
Sintomas são piores pela manhã
Segundo Dra. Tatiana Nahas, oftalmologista especialista em cirurgia plástica ocular, os sintomas costumam ser piores pela manhã.
“As pessoas com blefarite costumam acordar com os olhos grudados devido ao acúmulo das secreções. Entre outros sintomas estão coceira, vermelhidão nas pálpebras e no olho, sensibilidade à luz, perda de cílios e formação de crostas nas bordas palpebrais, que lembram caspas”.
Com a ajuda da médica elencamos as principais causas da blefarite. Confira a seguir.
Causas da Blefarite
1- Dermatite seborreica
A dermatite seborreica é um doença crônica que costuma afetar as glândulas sebáceas de certas partes do corpo humano. Poucas pessoas sabem, mas existem glândulas sebáceas nas pálpebras que produzem a parte gordurosa do filme lacrimal, chamadas glândulas de Meibômio. A dermatite seborreica pode alterar o funcionamento destas glândulas e desencadear a blefarite.
2- Rosácea
A rosácea é uma doença inflamatória crônica da pele que se caracteriza por vermelhidão, espinhas e vasos sanguíneos na zona central do rosto. Embora seja uma condição dermatológica, 20% das pessoas com o diagnóstico de rosácea podem apresentar os sintomas oculares. A manifestação ocular mais comum da rosácea é a blefarite.
3- Menopausa
Durante o climatério e a pós-menopausa, o corpo da mulher passa por diversas alterações hormonais que podem interferir no funcionamento das glândulas sebáceas. Além disso, muitas mulheres nesta fase realizam a terapia de reposição hormonal e usam medicamentos para tratar depressão e ansiedade. Todos estes fatores podem resultar no desenvolvimento da blefarite.
4- Demodicose facial (infestação de ácaros Demodex)
De acordo com estudos, a demodicose facial, ou seja, a infestação de ácaros Demodex está presente em 58% dos pacientes com blefarite. Todas as pessoas possuem colônias de ácaros Demodex na pele, sendo os principais o Demodex folliculorum e o Demodex brevis.
Entretanto, algumas pessoas apresentam uma quantidade muito elevada destes ácaros na região da face. Os ácaros D. brevis costumam se estabelecer nas glândulas de Meibômio e se alimentam do sebo. Quando morrem, liberam bactérias que podem acarretar a blefarite.
Além disso, estes ácaros causam aumento das células do epitélio das pálpebras e engrossam a camada exterior da pele, além de obstruir os ductos por onde o sebo é secretado. Isto tudo desencadeia um processo inflamatório que visa combater a infestação destes micro-organismos.
5- Meibomite
A meibonite é a inflamação das glândulas de Meibômio. A causa da meibomite é a obstrução do ducto que secreta o meibum (parte gordurosa da lágrima). A meibomite se desenvolve na parte de dentro da margem palpebral, onde ficam as glândulas de Meibômio.
Mas, a meibomite pode evoluir para a blefarite, que afeta a base dos cílios. Portanto, na maioria dos casos quem tem meibomite também desenvolve a blefarite.
Tratamento da blefarite com luz pulsada
Até meados de 2019, o tratamento da blefarite era um desafio para os oftalmologistas. Isto porque o controle dos sintomas era feito com medicamentos, mas isso não impedia a recorrência das crises. Por isso, era considerada uma condição de difícil controle.
A partir de 2019, a luz intensa pulsada foi aprovada no Brasil para tratar doenças da superfície ocular, entre elas a blefarite.
“A luz pulsada é uma energia térmica que quando aplicada age levando à desobstrução das glândulas de Meibômio. Além disso, a luz intensa pulsada melhora os fatores inflamatórios e reduz a presença de ácaros e bactérias típicos da blefarite”, explica Dra. Tatiana.
“Portanto, a luz intensa pulsada normaliza o funcionamento das glândulas de Meibômio. A partir disso, todas as condições que têm origem em alterações no funcionamento dessas glândulas sebáceas apresentam melhora”, adiciona a médica.
A principal vantagem da luz pulsada para tratamento da blefarite é o desaparecimento dos sintomas por tempo prolongado.
Como é o tratamento com a luz pulsada
- Cada sessão dura em torno de 3 a 5 minutos
- É indolor, feito sem sedação
- Não é necessário repouso, nem cuidados especiais
- Resultados imediatos e cumulativos
- O tratamento completo é feito em 3 sessões, com intervalo de 15 dias entre eles
- Uma sessão de manutenção deve ser feita anualmente
“Apesar dos benefícios da luz intensa pulsada no tratamento da blefarite, pessoas com este diagnóstico devem realizar diariamente a higienização das pálpebras”, finaliza Dra. Tatiana.
Higiene das Pálpebras – Como fazer
Passo 1
Aquecimento das pálpebras: Como as secreções ficam endurecidas, é preciso aquecer para desgrudar e não machucar a pele. O ideal é fazer uma compressa com água morna e deixar de 3 a 5 minutos em cada olho.
Passo 2
Massagem: Depois de aquecer as pálpebras, faça uma massagem sútil de fora para dentro para eliminar a secreção acumulada.
Passo 3
Limpeza das pálpebras e dos cílios: O médico pode indicar um produto específico para essa etapa. Com a ponta dos dedos limpe as pálpebras e os cílios. Massageie suavemente, com movimentos circulares.
Passo 4
Limpeza da borda: O ideal é fazer isso diante de um espelho. Com uma compressa embebida no produto indicado pelo médico, limpe as bordas superiores e inferiores do olho, sem encostar no globo ocular.