Quando a luz dos olhos reflete a nossa autoconfiança
Não foi necessária uma só palavra. O sorriso estampado e os olhinhos brilhantes falavam por si. Assim foi a festinha junina na creche do pequeno Dudu, meu simpático sobrinho, o xodó da família, que dançou sua primeira quadrinha, aos dois anos, ladeado pelos coleguinhas de classe.
O que mais me chamou a atenção foi a sua mudança de comportamento ao nos ver, aplaudindo de pé sua graciosidade. Até então tímido, parece ter crescido com o contato visual com a gente. Era a senha que faltava para ele se soltar e fazer ainda mais bonito. É claro que eu chorei, né?!
Este episódio me fez lembrar da importância do reforço positivo, nesta fase da vida, e dos reflexos determinantes em nossa jornada adulta. Participar daquele momento fez diferença para ele, ao se sentir apoiado, valorizado e querido por seus familiares – fortes referências de como será sua atuação no mundo lá na frente.
O reconhecimento dialoga muito com a nossa sensibilidade de perceber o outro no seu esforço, muitas vezes hercúleo, de fazer o melhor.
Trouxe, durante muitos anos, comigo, a dor da falta do reconhecimento. Quando criança, ficava elucubrando o que fazer para arrancar um elogio dos meus pais. Valia de um comentário acerca da aula do dia até lavar a louça do almoço, sem precisar ser mandado. Lamentavelmente, na maioria das vezes, não conseguia. Este padrão se estendeu até a minha adolescência, quando sinalizava, sem perceber, para meus interlocutores, uma necessidade perceptível de aceitação. “Tá bom este texto que eu fiz?”; “Gostou mesmo do meu ovo frito?”; “Ficou organizado como o senhor queria, chefe?” são alguns exemplos de diálogos que evidenciavam este movimento de reconhecer-se importante para o outro.
É curioso como, inevitavelmente, as consequências deste processo reverberam por anos a fio no nosso jeito de perceber e lidar com as situações. A segurança de cada um é, muitas vezes, potencializada pelos sinais emitidos pelo outro. Ainda hoje, quando tenho uma reunião para conquistar um novo cliente, por exemplo, a forma como ele reage direciona o meu discurso. Explico: se sinto aceitação, reforço meus argumentos, me empodero e potencializo o tom da minha fala. Do contrário, reavalio se vale a pena insistir ou se reconduzo por outro caminho.
Consegui reconhecer minha segurança interna quando entendi, já barbado, que não deixaria de ser aceito, caso a minha entrega para o outro não atingisse a expectativa dele. E mais: de que estava tudo bem se eu errasse; e que o todo acaba sendo mais valioso do que a parte.
Chavinha virada, me libertei (não ainda totalmente, como gostaria, é bom que se diga) da necessidade de aceitação e aprendi que como eu me percebo é determinante para as relações que construo e os resultados que posso alcançar.
Mesmo com o reconhecimento mitigado na infância ou na fase adulta (quando podemos deixar de ser reconhecidos, ainda que tenhamos sido quando crianças), há caminhos para o auto empoderamento. Ver os olhinhos reluzentes de jabuticaba do meu pequeno, num grito espontâneo e cheio de amor, no dia da festa, reforçou em mim a necessidade de estar conectado, sensível e atento para valorizar o que o outro tem de melhor – ainda que ele mesmo não seja capaz de enxergar! É a vida nos ensinando a ser luz na vida do outro.
*Flávio Resende é jornalista, coach ontológico, empresário e aprendiz das coisas do sentir.