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No viés filosófico #1: O que é a consciência

Segundo o filósofo ateniense Sócrates, “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida” – é nesse espírito que convidamos o leitor a questionar e examinar um dos temas mais controversos e problemáticos da Filosofia e da Neurociência: a consciência.

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Para nos ajudar nesta tarefa perguntamos ao professor de História e Filosofia, Fabrício Costa:

O que é a consciência?

É sentir-se vivo e saber que vai morrer – sem se esconder atrás da possibilidade de outras vidas… seja na terra ou nos céus. A inconsciência é uma metástase chamada idealismo.

O que não é a consciência?

É a seriedade no tratamento de postulados sobre transcendências, um mundo melhor para todos e outros. É se colocar abaixo de qualquer delírio – justiça, democracia, socialismo, paraíso, virgens que esperam no céu etc. No momento que subjugo toda ladainha, a coloco em seu devido lugar, abaixo de mim – se essa afirmação parecer muito arrogante, tome-a para si também – nesse momento, começo a respirar, a amar a vida acima de qualquer doença. Qualquer sacerdócio de qualquer linha religiosa e/ou política é o puro exemplo da não consciência.

É possível ampliar a consciência? Como?

Não. É possível se livrar do lixo para a casa ficar limpa… mas saiba que a sujeira é persistente e que no dia seguinte ela recomeçará seu trabalho!

De que nos serve a consciência?

Evidenciar a coragem. Por meio da coragem se ganha o real desfrute da vida, o êxtase contra o tédio. O problema é que a cultura vem se baseando na covardia e no tédio. Para que tantas distrações e produtos? Novamente incluo nesse venenoso mercado todas as distrações a serviço da desvalorização da vida em nome de outra vida idealizada (ideais burgueses de consumo, ideais comunistas, anarquistas, democráticos e religiosos). Encarar o fato trágico que a vida se tornou muito pesada até mesmo para os ombros largos de Platão…

O que pode “matar a consciência”?

Nada. A “consciência tacanha” que pode ser traduzida como os constantes sentimentos de culpa; aquele peso psicológico que deixa animal homem acuado, sentimento também chamado de “mal estar”, de “má consciência”, enfim, essa forma funesta de consciência vem tentando acabar com o êxtase de se estar vivo. Tem êxito com a maioria das pessoas, sem dúvida, mas ainda é uma forma de consciência, ainda que não supere a consciência paranoica de uma lebre…

Se a consciência é “ sentir-se vivo e saber que vai morrer”,  não seria a busca pela juventude eterna um auto engano capaz de nos tirar um pouco a consciência, enquanto nos distraímos jogando a morte para algum ponto distante do futuro?

Se a morte está num futuro próximo ou distante, não importa. Sentir-se vivo e saber que vai morrer são dois motivos suficientes para potencializar o momento presente. Não seria buscar ser jovem nem idoso (em termos físicos), dado que ambos são apartados do desejo… fica-se mais velho, esse é o fato observado. Embora sentir que a vida está sendo potencializada seja algo ainda mais prazeroso que apenas ser jovem fisicamente. Muitos jovens sofrem da “má consciência”, andam derrotados, psicologicamente doentes. Hoje existe uma epidemia de jovens entediados, outro fato.

Fabrício Costa é professor de História e Filosofia. Escreve no blog fabriciopensa.blogspot.com.br

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